As articulações temporomandibulares (ATM) são duas das mais complexas articulações do corpo humano. Quando funcionam de forma inadequada, são responsáveis pelas principais dores na região orofacial de origem não dentária: as chamadas disfunções de ATM.
Sintomas de disfunção de ATM
Pela complexidade das estruturas, a disfunção da ATM pode compreender não só dores na região específica da ATM (3mm à frente do ouvido), mas de toda a cadeia muscular envolvida, originando dores na face (que lembram sinusite), dores de cabeça, dores na região do pescoço, nuca e ouvidos.
A ATM também possui inervação do nervo trigêmeo, que além da sua grande abrangência (ramos oftálmico, maxilar e mandibular), envia seus impulsos nervosos para o núcleo do trato espinhal do trigêmeo dentro do tronco encefálico. Este núcleo funciona como uma substação de impulsos nervosos, para onde convergem diversos outros nervos cranianos, como por exemplo, o facial, nervos cervicais e até o nervo vago (que inerva vísceras), daí nem sempre a dor ter origem na área dolorida, mas em outro local à distância, logo o diagnóstico nem sempre é tão simples.
Em outros casos, os sintomas são mais nítidos como dificuldade para mastigar, limitação de abertura da boca, cansaço ao falar, estalos articulares.
A disfunção da ATM pode gerar dores de cabeça?
Pelo exposto anteriormente sobre musculatura, inervação e interpretação nervosa ao nível do S.N.C., verifica-se que sim; Contudo existem muitos tipos de cefaléias e enxaquecas e a dor é sempre um alerta do organismo que algo não está bem, assim, dores de cabeça podem significar desde uma cefaléia tensional (que é uma cefaléia primária de tratamento farmacológico) que se confunde com disfunção da ATM por envolver alterações na musculatura pericraniana. Assim a pesquisa dos agentes etiológicos da dor e o trabalho multidisciplinar de neurologistas, otorrinolaringologistas, especialistas em disfunção de ATM, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos podem ser necessários.
A disfunção da ATM é uma alteração causada por muitos fatores (multifatorial), isolados ou associada. Exclusivamente por finalidade didática, discorreremos sobre alguns deles.
Quais as causas da disfunção?
1 - Má oclusão
Antigamente acreditava-se que só fatores de má oclusão (encaixe dos dentes) é que causavam problemas de ATM, pois dentes ausentes, tortos que provocariam instabilidade mandibular facilitando o deslocamento do disco articular. Estudos mais recentes conferem à oclusão papel predisponente (ou seja, facilitador, se outros eventos como estresse, por exemplo, estiverem presentes). Contudo uma oclusão deficiente distribui mal as forças mastigatórias não só para a ATM, mas para os próprios dentes, podendo gerar retrações gengivais, perdas ósseas e fraturas de esmalte.
2 – Bruxismo
É o ato de apertar os dentes, principalmente durante o sono, também de causas multifatoriais e não totalmente conhecidas. Fatores emocionais (estresse) e estudos atuais também demonstram sua correlação com distúrbios do sono, estão relacionados como, por exemplo, a apnéia, onde a hipóxia momentânea promoveria uma incordenação entre os músculos abaixadores e levantadores da mandíbula, surgindo o bruxismo.
3 – Traumatismos
Jogos esportivos, lutas, acidentes de automóvel, etc.
4 - Hábitos parafuncionais
Aqui inclui-se o bruxismo; apreensão de objetos com os dentes, apoio de mão na mandíbula, mastigação excessiva de chicletes, etc.
5 - Lassidão ligamentar
Alteração genética que promove uma maior flexibilidade de todas as articulações, podendo levar à disfunção de ATM.
Qual o tratamento para a disfunção da ATM?
A primeira terapia é a supressão da dor nos quadros agudos, que dependendo da etiologia pode significar a necessidade de medicamentos, fisioterapia (calor, ultrassom), aparelhos inter-oclusais (placas) que ajudam a promover um relaxamento muscular e/ou uma descompressão articular, eletroterapia (tens, mens), anestesia nos músculos para dissolver nódulos (trigger points, que quando pressionados desencadeiam dor à distância).
O tratamento inicial visa a redução da inflamação e da carga excessiva sobre músculos e articulação, a partir daí através de metodologia específica pesquisa-se os fatores etiológicos envolvidos, que podem envolver também a necessidade da estabilidade ortopédica da mandíbula, havendo a necessidade da confecção de novas próteses, reposição de dentes perdidos, tratamento ortodôntico, variando individualmente para cada caso.
O importante é estabelecer com segurança se fatores oclusais estão envolvidos, além de controlar outros fatores etiológicos como estresse, alterações hormonais e sistêmicas, etc. a fim de promover um tratamento adequado ao paciente.